Além das mortes confirmadas, há relatos de 367 animais em tratamento e outros 212 sob observação clínica

Goianésia- Um possível surto de intoxicação envolvendo rações para cavalos mobiliza criadores e autoridades em vários estados brasileiros. Pelo menos 650 cavalos morreram nos últimos dois meses, segundo relatos de criadores e advogados que acompanham o caso. Os óbitos estariam ligados ao consumo de produtos da Nutratta Nutrição Animal Ltda., empresa com sede em Itumbiara, Goiás.


O caso está sendo investigado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que já suspendeu temporariamente a comercialização do produto envolvido: o Foragge Horse, da linha de nutrição equina. Os números mais recentes foram levantados pela advogada Maria Alessandra Agarussi, representante de criadores afetados, e repassados ao portal Metrópoles.

Somente no estado de São Paulo, estima-se a morte de 290 animais. Há ainda registros em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas, Rio Grande do Norte e também no próprio Goiás. Os sintomas relatados incluem desorientação, apatia, alterações comportamentais, perda de apetite e dificuldades de locomoção.

Entre os criadores afetados está Weder Silva, que mantém uma propriedade em Goiânia. Ele relata um prejuízo incalculável. “Perdi três cavalos e outros três estão em observação. É uma tragédia. Nem sei dimensionar o tamanho do problema que essa empresa está causando em Goiás e no Brasil inteiro”, desabafou.

A gravidade do caso motivou a formação de um grupo no WhatsApp chamado “Vítimas do Caso Nutratta”, que já reúne mais de 400 membros. Além das mortes confirmadas, há relatos de 367 animais em tratamento e outros 212 sob observação clínica.

A advogada Maria Alessandra destaca que os prejuízos vão além das perdas financeiras. “É incalculável, principalmente se considerarmos a perda genética e sentimental. Cavalos da raça mangalarga marchador, com genética única, foram a óbito. Não há como repor esse tipo de perda”, afirmou.

A Nutratta Nutrição Animal se manifestou por meio do advogado Diêgo Vilela. Em nota, a empresa lamentou os relatos, negou a veracidade dos números divulgados e afirmou que está colaborando integralmente com as investigações do Ministério da Agricultura.

A Nutratta afirmou que análises preliminares indicaram a presença da substância monocrotalina, um alcaloide tóxico encontrado naturalmente em plantas do gênero Crotalaria, frequentemente usadas na adubação verde. Segundo a empresa, trata-se de uma possível contaminação acidental de origem vegetal.

Como resposta, a companhia diz ter adotado medidas de autocontrole adicionais, como reforço das análises laboratoriais, revisão de protocolos de qualificação de fornecedores, rastreabilidade de matérias-primas vegetais, além de mudanças no layout fabril e processos sanitários internos.

Confira o trecho principal da nota oficial da empresa:

“A Nutratta lamenta profundamente os relatos de intoxicação e óbitos de animais associados ao produto Foragge Horse, e reforça que está colaborando integralmente com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para elucidar os fatos, inclusive fornecendo documentos e informações técnicas”.

“As análises laboratoriais preliminares indicaram a presença da substância monocrotalina, produzida naturalmente por plantas do gênero Crotalaria, que podem estar presentes em matérias-primas de origem vegetal utilizadas em diferentes cadeias agroindustriais.”

“Diante da situação, a Nutratta adotou medidas adicionais de autocontrole, incluindo reforço de análises, revisão de processos internos e reestruturação de sua planta fabril”.