
Goianésia- A qualidade da educação no Brasil espelha não apenas a diversidade regional do país, mas também suas desigualdades estruturais. Enquanto escolas nos grandes centros urbanos enfrentam superlotação, alta competitividade e infraestrutura sobrecarregada, instituições localizadas em cidades do interior lidam diariamente com a escassez de recursos, a ausência de professores especializados e desafios logísticos que comprometem o processo de aprendizagem.
Cada realidade impõe seus próprios obstáculos, mas também carrega aspectos positivos. Nas capitais, é mais comum encontrar escolas com estrutura física moderna, acesso à internet de alta velocidade, bibliotecas atualizadas, laboratórios de ciências e uma ampla oferta de atividades extracurriculares. Além disso, estudantes têm maior acesso a cursos técnicos, universidades, centros culturais e programas de apoio ao desenvolvimento escolar.
Já nas cidades menores, a rotina educacional costuma ser marcada pela limitação de recursos e pela dificuldade em manter profissionais qualificados. A professora da rede pública e diretora da escola de redação Redigir, em Goianésia, Goiás, Patrícia Nara, destaca os desafios enfrentados por professores e estudantes em regiões fora dos grandes centros. “Inserir mais de cinco alunos com deficiências diferentes em uma sala de aula é uma situação insalubre. Percebo que o maior desafio da educação básica está na precariedade das condições de trabalho dos professores, que não têm piso salarial justo, trabalham sob pressão e dentro de um modelo pedagógico baseado apenas na transmissão de conteúdo, o que acaba desumanizando as pessoas”, afirma.
Embora o direito à educação seja garantido pela Constituição, a desigualdade regional ainda é uma barreira significativa, uma pauta que não pode surgir apenas em tempos de eleição, mas sim ser tratada como uma prioridade contínua no processo de desenvolvimento intelectual e social do país.
Patrícia reforça que o problema não está restrito ao interior. Segundo ela, tanto em áreas urbanas quanto em regiões mais afastadas, o abandono da educação pública é perceptível. “Percebo, como educadora, que não é só no interior que falta investimento. Mesmo com o acesso garantido, muitas demandas não são atendidas. Essa desigualdade é mascarada, aparece com mais força só em época de eleição”, comenta.
Outro ponto central nesse debate é a reforma do ensino médio, que alterou de forma significativa a estrutura curricular das escolas. A proposta visava tornar o ensino mais flexível, permitindo que os alunos escolhessem itinerários formativos alinhados aos seus interesses e objetivos profissionais. No entanto, a implantação da reforma tem gerado críticas por todo o país.
Em muitas escolas públicas, especialmente nas periferias urbanas e em cidades pequenas, a falta de estrutura compromete a oferta de diferentes itinerários. Em vez de ampliar as possibilidades, a escolha do aluno acaba limitada a uma ou duas opções — e, em alguns casos, não há escolha alguma.
Com mais de 30 anos de experiência em sala de aula, Patrícia Nara relata os impactos dessas mudanças na rotina escolar. “Já passei por muitas reformulações que não deram certo. Essa do Ensino Médio é mais uma que veio sem diálogo e sem estrutura. Tudo isso interfere diretamente na qualidade física, estrutural e psicológica da escola e dos profissionais”, afirma.
Para especialistas, o enfrentamento da desigualdade educacional no Brasil exige políticas públicas regionalizadas, que considerem as diferentes realidades do território nacional. Não há soluções únicas. Nas grandes cidades, o foco deve ser melhorar a gestão escolar, reduzir desigualdades internas e garantir um atendimento mais individualizado aos estudantes. No interior, o caminho passa por investimentos em infraestrutura, ampliação do acesso à tecnologia e valorização dos profissionais da educação.